Esse foi um artigo meu recente para o site Middle East Monitor, , um dos maiores sites de notícias sobre o Oriente Medio do mundo. Nesse artigo explico por que os EUA, apesar do retumbante fracasso no Afeganistão, tiveram um imenso LUCRO FINANCEIRO promovendo guerras, assassinatos de crianças e genocídios nos 20 anos no Oriente Médio.
"Um obsceno, desumano, e imensamente lucrativo negócio. Muitos brasileiros imaginam que a tal Guerra ao Terror, ou seja, as invasões criminosas dos EUA ao Afeganistão, ao Iraque, à Líbia, e depois à Síria, travestidas de “vamos levar a democracia e salvar as mulheres desses países” possam ter sido, além de um retumbante fracasso militar, um espetacular prejuízo à maior potência bélica do mundo e aos aliados da morte. Nada poderia estar mais longe da verdade.
Para entendermos por que isso é tão falso, é necessário voltarmos a 2003 e à invasão do Iraque, vendida ao mundo como humanitária e justa pelas “ provas” que os norte-americanos teriam de que o Iraque possuía armas químicas e de destruição em massa. Armas que jamais foram encontradas porque simplesmente jamais existiram.
Os EUA causaram o genocídio de um povo que já estava de joelhos devido às sanções que vinha sofrendo. Entre março de 2003 e agosto de 2007, a Guerra do Iraque matou de mais de um milhão de iraquianos, entre mulheres, crianças e jovens, produziu mais de 5 milhões de refugiados, produziu a fome e o empobrecimento em massa, e permitiu o roubo do maravilhoso patrimônio cultural do país que foi um dos berços da humanidade. Negociantes norte-americanos de antiguidades encomendaram o roubo de milhares de relíquias do império abássida, da época de ouro de Bagdá, da cidade que foi durante mais de 1000 anos uma das capitais mais lindas, avançadas cientificamente, tolerantes e mais ricas do planeta, uma espécie de farol do mundo durante a Idade Média, época em que o Ocidente estava mergulhado nas trevas do feudalismo, da servidão miserável que produzia apenas fome, das guerras entre pequenos reinos que não formavam sequer uma nação e de pequenos tiranos que se matavam entre si, enquanto a Igreja proibia que milhões de jovens pobres estudassem e queimava mulheres nas fogueiras.
Bush Jr desconhecia completamente a história de Bagdá como um dos berços da civilização humana e chegou a dizer várias vezes que os EUA fariam uma “ nova cruzada”, até ser corrigido por um de seus assessores, que lhe explicara que que essa era uma péssima analogia pois os cristãos haviam matado muito mais que os muçulmanos e cometido mais atrocidades durante as Cruzadas e os fatos eram confirmados pelos maiores historiadores do mundo.
As imagens da invasão criminosa dos EUA ao Afeganistão, de crianças mutiladas e mulheres ensanguentadas ao lado de seus bebês, povoariam meu coração e minha mente para sempre, desde que as vi pela primeira vez num telão da Via Veneto, em Roma, onde eu morava naqueles anos.
Além de uma tristeza imensa, as imagens me intrigavam pela rapidez da resposta da CIA e do governo Bush aos ataques. Ainda em setembro de 2001, em Roma, descobri que jovens muçulmanos, meus amigos, que viviam e estudavam na Itália, e haviam viajado para seus países de origem nas férias de verão, estavam sendo impedidos de voltar a Roma e que a Itália, presidida então por Berlusconi, estava assinando acordos militares com os norte-americanos e liderava uma campanha midiática de ódio religioso e islamofobia que me envergonhavam profundamente como cristã.
O povo iraquiano mergulhava no que se transformaria em duas décadas de fome, miséria, medo, destruição de vidas, escolas, passado e futuro, ao mesmo tempo em que as empresas norte-americanas de petróleo mergulhavam em duas décadas de prosperidade, ambição de domínio mundial, riqueza jamais vista. Se as armas químicas jamais foram encontradas pela CIA e pelos militares norte-americanos, os poços de petróleo e as reservas que valiam bilhões foram encontradas nas primeiras semanas de invasão dos EUA ao país, e hoje pertencem multinacionais americanas como a Exxon, ou seja, criam riquezas, empregos, lucros estratosféricos para investidores e empresários norte-americanos.
Os norte-americanos convenceram o mundo de que essa era uma guerra da civilização contra a barbárie, do cristianismo ocidental, que” jamais errara”, contra muçulmanos malvados, terroristas e estupradores, mesmo que a História das Cruzadas e da Reconquista violenta da Andaluzia pelos reis cristãos evidenciassem que o oposto acontecera durante séculos(...)
As justificativas para mais guerras, depois de já terem invadido 38 países do mundo nos últimos 70 anos, patrocinado ou apoiado Golpes militares como os do Chile e do Brasil, destruído dezenas e dezenas de economias do mundo, matado milhões de inocentes, e jogado duas bombas nucleares no Japão, em Hiroshima e Nagazaki, no final da II Guerra Mundial, eram “encontrar Bin Laden, destruir a Al Qaeda, destruir o Talibã no Afeganistão, e, claro, salvar o povo sofrido do Iraque e do Afeganistão”.
(...) Minha filha, uma menina observadora e curiosa como eu na sua idade, me diria, pedindo uma explicação, dois dias depois da saída dos EUA de Cabul: "Mãe, os EUA mataram mais de 200 mil pessoas no Afeganistão, e mais de um milhão de pessoas no Oriente Médio, eu li que eles gastaram dois trilhões de dólares lá, mas as pessoas estão se pendurando em aviões, as crianças estão passando fome e o Talibã voltou, então, eles mataram tantas pessoas por nada e ainda tiveram esse prejuízo!
Naquela noite expliquei à minha filha, com imensa tristeza pelas amigas refugiadas afegãs que conheci em Roma, como Latiffa, com quem tenho conversado desde então, que os EUA, sua fábrica de matar mulheres e crianças, seus senhores da morte e sua indústria armamentista jamais tiveram prejuízos nessas duas décadas.
Expliquei a ela que o complexo industrial-militar norte-americano é composto por 14 mil companhias que empregam cerca de 3 milhões de pessoas. As cinco maiores fabricantes de armas no mundo são empresas norte-americanas que alcançaram juntas um faturamento de mais de US$ 165 bilhões em 2019.
Ou seja, o dinheiro gasto e perdido é socializado e dividido entre os contribuintes dos EUA, um país com mais de 40 milhões de pessoas vivendo na linha da pobreza e sem assistência médica básica, mas o lucro obtido através das guerras e das mortes de milhoes de muçulmanos é privatizado. Ganhar ou perder uma guerra em solo estrangeiro não é importante para a indústria da morte norte-americana. O relatório da Universidade Brown, divulgado em 2021, apontou que o Pentágono gastou desde 2001 quase 6 trilhões de dólares em invasões e guerras(...)
Nenhum comentário:
Postar um comentário