Hoje troquei minhas
fotos no face book. Na do perfil coloquei uma dos anos oitenta quando ainda
trabalhava e era muito atuante nas greves que foram feitas na empresa. A da
capa é atual e retrata um momento impar da expectativa da chegada da primeira
neta. Porque fiz este conjunto? Dou-lhes a explicação.
Quando tirei meu primeiro título nos idos de 1965, me foi
furtado o direito de escolher meus representantes do cargo maior no Estado e no
Pais. Em certos momentos, cidadãos que
elegi foram cassados pura e simplesmente por que não coadunavam com o
regime imposto. Ao me transferir para Porto Alegre, muitas vezes tive que fugir
de balas perdidas de verdade (não de borracha como hoje) e de baionetas (hoje
não é mais usado) que não escolhiam alvos. Isso quem continuou morando no interior, nem ficava
sabendo pela censura que havia. A busca por emprego era uma luta a cotoveladas
pois os candidatos eram muitos. O salário por conta disso, eram irrisórios.
Faziam de contas que havia planos de carreira e o que mais cerca a relação
humana dentro de empresas. Muitas
empresas, hoje enormes, foram desenvolvidas em cima deste pressuposto:
mão-de-obra farta e barata. Ou baixava-se a cabeça e agarrava-se tenazmente no
emprego ou penava uma busca infrutífera por meses e meses de emprego que não
chegava. Passei por isso duas vezes apesar de ter bom conhecimento e bom
relacionamento em de Recursos humanos, área em que atuava.
Passei por vários “roubos” oficiais nos planos econômicos mirabolantes
que sempre favoreceram o status quo empresarial e quem pagava o pato era sempre
a classe trabalhadora. Mesmo na reposição de perdas perdeu-se muito dinheiro. O
último já na era pós-Collor surrupiou de produtores rurais e trabalhadores
favorecendo, como sempre o setor empresarial.
No item segurança, a violência cresceu com inchamento das
cidades por conta da concentração de terras nas mãos de poucos. Explico. Com o
advento das monoculturas, os colonos (assim chamavam-se os produtores rurais de
hoje) os colonos endividavam-se devido ao tamanho da terra que não comportavam
a monocultura (só é rentável a partir de certo número de hectares) e perdiam-na
para os bancos ou vendiam para vizinhos em melhor situação concentrando a posse
da terra em mãos de poucos. Na região de Ijuí-RS é difícil encontrar propriedades de 25 hectares
como existiam até início da década de 1960. O início e incremento das favelas
deu-se no período ditatorial sem que houvesse qualquer movimento por parte dos
governos para melhorar. Déficit de emprego, salário e falta de perspectivas aliado
ao financiamento de poderosos permeados no poder, alavancaram o tráfico de
entorpecentes.
O salário mínimo era arrochado para que não houvesse rombo
na previdência. Nas aulas de economia que tive, houve um professor que proferiu
uma pérola: se aumentasse o salário mínimo o resultado macroeconômico seria
catastrófico com falta de alimentos.
Duas assertivas que quando postas à prova com a nova lei do Salário mínimo,
fracassaram como verdades!
A saúde era precária. Morria-se mais facilmente. Meu pai por
falta de recursos que hoje existem morreu com apenas 59 anos. Certamente, como
eu, ganharia sobre-vida vivesse hoje.
Remédios só
comprando-os e sempre com preços muito altos como sempre foi.
A saúde pública não cobria todos os procedimentos, tanto que
até hoje ainda o Ministério da Saúde os incorpora em procedimentos normais do
Sistema Único de Saúde.
A educação era escassa. Somente famílias interessadas em que
o filho estudasse conseguiam mesmo com dificuldades, fazer que isso
acontecesse. Ir ao colégio com temperaturas
beirando a zero, com um chinelo ou sapato sem meia, um calção de saco costurado
pela mãe e um casaco leve.
Só existiam cursos técnicos de segundo grau gratuitos, os
segundos graus preparatórios para as universidades eram chamados de Científicos
e eram pagos. As universidades federais eram em cidades longínquas, mesmo com
as batalhas dos vestibulares vencidas, as dificuldades econômicas não permitiam que remediados (classe que hoje
não consigo enquadrar) frequentassem, quem diria os pobres que batalhavam para
viver. Já na infância olhava com inveja os filmes norte-americanos em que os
alunos iam para a escola em ônibus escolares.
Merenda escolar era muito rara. Dia que tinha uma sopa
floculada que não dava para identificar o que existia nela, era uma festa. Ou
um mingau que não conseguíamos distinguir o sabor.
Mesmo no período do Brasil governado pelo Dr.
Fernando Henrique Cardoso que, diga-se de passagem teve tudo para
melhorar essas condições, nada se fez e em alguns casos suprimiram-se recursos
para a educação, e saúde que sucateadas, estiveram à beira de serem
privatizadas como o foram no Chile. Nada foi feito com respeito à
segurança.
Porto alegre, lembro bem, convivia com muitos pedintes nas
esquinas das vias principais. Favelas aos montões, cidade estagnada. Industria
da Construção estagnada. Grandes Construtoras quebrando deixando adquirentes sem nenhum respaldo.
Mesmo com esse quadro em que passei 5/6 de minha vida sempre
esperei pelo melhor. Sabia que o Brasil não era isso e que era sim possível
resolver paulatinamente os problemas que relatei. Aliás o relato é isso, relato.
Sem sentimentos de ódio ou rancor pois acho que devíamos passar por isso mesmo
para dar valor aos ganhos que viriam neste atual milênio.
Em nenhum momento usava as expressões preconceituosas que
vejo serem usadas hoje contra a pátria em que vivo hoje muito melhor que vivia
anteriormente.
Há muito o que fazer, sim. Paulatinamente. Criteriosamente.
Usando uma palavra corrente: com sustentabilidade.
Há uma assertiva que aparece ciclicamente nas redes sociais
só erra quem, pelo menos, faz alguma coisa! Quem nem tenta, não errará nunca.
Não preciso explanar o que modificou nestes últimos anos.
Todos acima de dez anos sabem como estão os pontos citados. Como exemplo, cito
uma passeio que estava fazendo por uma rua quase rural da minha cidadezinha
quando vi uma porção de crianças, vestidas com todas as peças de vestuário, com
mochilas cheias de livros (grátis) e cadernos em uma parada de ônibus esperando
o escolar. Perguntei a varias delas sua mãe recebe o bolsa-família? Todas
recebiam (o bairro é extremamente pobre e fruto de uma invasão). Estavam lá
alimentados vestidos, iriam e voltariam de busão como me disseram que estavam
esperando. Outro exemplo é a dificuldade de encontrar mão-de-obra para o que
quer que seja. Bom, não é? Significa desenvolvimento. Significa evolução. Significa
melhoria social. Significa cidadania plena e não teórica.
A escola em tempo integral já é uma realidade em todo o país
com previsão de 60 000 escolas nesse formato:
“A meta do Mais Educação para 2013, de 45 mil unidades educacionais, foi superada e o total alcançado foi de 49 mil escolas. Para 2014, está previsto o atendimento em 60 mil escolas. É considerada educação integral a jornada escolar com sete ou mais horas de duração diária.” Fonte:
http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_content&view=article&id=20264:censo-escolar-revela-aumento-de-matriculas-em-tempo-integral&catid=211&Itemid=86
http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_content&view=article&id=20264:censo-escolar-revela-aumento-de-matriculas-em-tempo-integral&catid=211&Itemid=86
Agora explicando:
A foto que postei na capa do Face, retrata a linha mais extensa de minha descendência com minha neta agora já nascida. Não quero para minhas filhas e para minha neta, que o Brasil retroaja o mínimo que seja. Se possível, e é, quero-o na vanguarda mundial de todos os indicadores humanos e sociais possíveis. Isso só se conseguirá aplaudindo o que está sendo bem feito, sem dar importância exagerada aos problemas que ainda restam.
Lutei como achei que deveria lutar para ter um lugar ao sol. Fui protagonista do meu tempo. Venci com muito trabalho árduo. Nunca esmoreci mesmo em depressão profunda por ver um negócio fracassar. Nunca deixei de dizer a mim mesmo: aguenta, vai passar, vais sair melhor dessa, tempos melhores virão. Olho sempre as coisas boas com olhos esperançosos de que no futuro serão melhores ainda. As coisas ruins nem as considero. Existem e serão tratadas por quem de direito, como está sendo e não como estavam sendo ignoradas ou escondidas. Notaram que não falei em corrupção. Existiu, existe e existirá enquanto formos humanos imperfeitos que elegem para cargos públicos seus semelhantes num maior ou menor quilate.
Para completar, prefiro ver, ler, divulgar, compartilhar, mostrar, defender as coisas boas que acontecem atualmente no Brasil do que ficar repetindo a lenga-lenga das mídias que nos incutem, cada dia mais, o complexo de vira-latas.
Em mim não. O meu complexo tem pedigrii!