Pois tenho um imã que atrai os guaipécas (gauchês: cães sem
dono pois abandonados foram). Mas gosto deles. No meu caso cadelas. Hum,
cadelas não fêmeas. O meu harém das cuscas começou com a Milu. Salvei-a de uma
gravidez de filhotes de cães muito maiores que ela, a esganada. Agora velhinha,
está sendo tratada a pão de ló dentro de casa. Depois veio uma de grande porte, a Jade, essa
veio pequenina salva por minha filha em uma noite chuvosa e fria. Depois disso
veio a Princesa metida a besta por ter um pouco mais pedigree de uma raça
caçadora em banhado. Essa é alarife, latido estridente, não tem ouvido, mas
também carinhosa. E por fim a Guria.
É um capítulo à parte. Nasceu
de uma ninhada que a Jade teve embaixo de um galpão de um vizinho. Um vizinho
mais próximo desse viu quando ele engambelou a Jade com ossos de churrasco e a
colocou na caçamba de uma camionete e me avisou do ocorrido e da ninhada.
Recolhi a ninhada e a Guria
foi a última que consegui resgatar. Não queria sair por nada desse mundo. Foi
uma luta. Comprei ração para filhote e desmanchava no leite de vaca e dava em
pires e lhes ensinei a lamber a mistura. Nesse meio tempo tive que viajar e
consegui alguém pra cuidar deles. Dois morreram.
Quando voltei de viajem já
havia se passado cinco ou seis dias do desaparecimento da Jade.
Continuei cuidando dos
pequenos. Até que, quando completou sete dias, a Jade conseguiu achar o caminho
de volta. Consegui salvar quatro, entre eles a Guria.
Resolvi ficar com ela. Era a
única que desafiava a ordem de não entrar em casa e teimosamente entrava para
urinar, para desespero da esposa. Corríamos com ela mais por farra e eu a
admirava pela sua audácia e teimosia.
Encaminhei para adoção os
outros três e fiquei com ela. Pelo histórico dos corridões ela não era afeita a
contatos ou carinhos, coisa que as outras adoravam.
Passou um tempo e ela deu de
desaparecer por períodos longos. Um adendo o meu portão ficava sempre aberto
para elas irem e virem ao bel prazer. Porém ao cair da tarde estavam a postos
para receberem a refeição oficial, pois queridas por todos tinham regalias e se
fartavam tanto que, às vezes não queriam a minha gororoba.
Estranhei, mas como ela
comparecia todo fim de tarde, não dei muita importância até que um outro
vizinho me alertou que uma das cadelas tinha dado cria na casa ao lado e que os
cachorrinhos estavam latindo e que eu deveria ver.
Pois a arredia nem mostrou que
estava no cio, escondeu a gravidez e o nascimento! Para me certificar que era
ela, quando saia depois de comer, eu a segui e vi entrando no pátio da casa em
que deu cria.
Confirmado, esperei ela sair
para outros lados e resgatei quatro filhotes lindos.
Os trouxe para casa e fiquei
com eles no colo esperando que ela viesse ver o que ocorreu.
Aí não teve outro jeito, a mãe
falou mais alto e ela teve que vir até mim e deixar lhe fazer afagos. Arrumei
um cantinho para eles até fazer as doações. Depois disso castramos todas.
Pois bem, a chefe do bando
sempre foi a Milu. O pessoal da cidade sabia que eu andava por perto, quando
via a Milu. Via ou sentia um movimento meu, levantava e se eu saísse, ia me
amadrinhando (gauchês: acompanhando).
Com a velhice da Fêmea Alfa,
houve uma pequena desavença, até que a Guria manhosamente, ganhou a posição e
está aceita pelas outras duas ainda fortes.
O pátio da minha casa está
cercado e o do vizinho de cima também. Pois ela achou um jeito de pular o muro
que nos separa, subir numa muretinha e pular por cima do portão do vizinho.
Para me acompanhar nas minhas caminhadas.
Hoje tivemos que descer, a
patroa e eu, para Santa Maria, ao sair, a Guria, como sempre, nos acompanhou
até a parada. Até aí tudo bem, depois ela sempre volta. Mas um vizinha nos
ofereceu carona e provavelmente ela não viu.
Voltamos de Santa Maria e
depois de descansar, vi que precisava ir ao Supermercado. Como sempre ela
junto. Fiz as compras e no caixa a moça me perguntou: O Sr. Veio para o centro
hoje de manhã? Não, respondi. Pois ela veio entrou no mercado, olhou tudo e
saiu. Foi para o lado da casa de sua filha(mora perto). Depois vi ela passando
para o lado de sua casa.
Até aí tudo bem, como ela não
viu o que aconteceu comigo, me procurou nos lugares em que está acostumada a me
acompanhar.
Ao chegar no condomínio a
Secretária me chamou para dizer que a minha companheira pede para abrir o
portão para entrar e sair. Como assim perguntei. Ela late e em seguida uiva se
posicionando perto do portão em que a visão da câmera a capta. Não é possível.
Tem mais, continuou, veio na porta olhou bem para dentro e viu que o Sr não
estava foi para o portão e novamente latiu e uivou. Saiu e um tempo de pois (o
tempo que levou procurando por mim na cidade) veio se posicionou latiu e uivou
novamente para que eu abrisse.
Não há amor maior que esse e
quem disse que não são inteligentes