COSTELÃO DE NOVILHA

COSTELÃO DE NOVILHA
A PROVA DE QUE APRENDI A ASSAR...

sexta-feira, 13 de maio de 2022

Exército Brasileiro

 

Ao ler sobre o episódio do foguete que se desviou da rota e caiu em uma lavoura, lembrei de fatos que ocorreram comigo quando servi ao Exército.

Analisando a trajetória do foguete fujão, dá para perceber que foi falha do material. Inicia com o mesmo trajeto dos outros e se desvia.

Usando uma bazuca em um exercício de campo, tendo como um alvo uma carcaça de fusca, aconteceu o mesmo. Bazuca firmemente assentada, projétil ligado à mesma (com dois fiozinhos) mira no alvo a mais de 100 metros, em uma colina, o aviãozinho, como chamávamos, saiu reto prevendo o acerto. Ledo engano, a munição da segunda guerra, sabe-se lá, desviou para a direita e derrubou uma pequena árvore.

Numa segunda tentativa acerto no alvo.

Mas quando a falha é humana?

Aconteceu comigo também. Não, não falhei e por pouco não houve vítimas. Conto.

Passei em primeiro lugar no curso de cabo com um dos testes que mede a inteligência espacial. Aquela em que você se situa no mundo e consegue ver posições de um determinado projeto sem precisar de desenho. A grosso modo, seria projetar na memória, inclusive com cálculos. Com isso a topografia foi a QMP – Qualificação Militar Particular – a mim destinada. A QMG – Qualificação Militar Geral – era a Artilharia auto Rebocada.

Alguns meses de treinamento e fui designado para fazer o levantamento do campo de tiro para o exercício com munição real. Depois de montar acampamento, saí em campanha e montei o diagrama, com cálculos num percurso de alguns quilômetros. O resultado final passei para a Central de Tiro que finalizou os dados até cada canhão que formava a primeira bateria de canhões 75 mm. À tarde, fui convidado pelo Tenente para acompanhar os tiros, na Central de comando que ficava em frente à colina onde estavam os alvos. Quatro no total.

Todo o cenário montado, o Coronel comandante, ordenou o primeiro tiro – o teste inicial para, se necessário fosse, corrigir os próximos.

Ordem dada, ouviu-se o estampido e o ruido característico dos flaps do projétil. Passou por cima de nós, dos alvos e da colina, indo detonar atrás da mesma.

Coronel e Tenente se entreolharam, provavelmente nunca tinham apreciado erro tão grande. O Tenente me olhou e eu fiz um gesto que não sabia o que estava acontecendo.

Confabularam e passaram novas coordenadas para a Central de Tiro. Com nova ordem repetiu-se o ocorrido. Aí não teve jeito. O tenente chegou-se e pediu o levantamento. Examinou-o e chegou a mesma conclusão que eu: estava correto. Transmitiu ao Coronel. Resolveram passar novas coordenadas e repetir o teste. Não houve mudanças.

Com não apareceu melhoras, lembrei do curso em que diziam que os tiros de testes eram dados da primeira ou terceira peça. Transmiti ao Tenente e este ao Coronel: Atirar com a terceira peça.

Transmitidas as instruções, veio a ordem de fogo. Por questão de metro, não explodiu o terceiro alvo.

Pronto. Fogo à vontade.

O que ocorreu? Falha humana. Ao buscar com o aparelho ótico do canhão a sua baliza, a equipe pegou a baliza do canhão vizinho.

Fiquei de alma lavada e enxaguada.