Ao ler sobre o episódio do foguete que se desviou da
rota e caiu em uma lavoura, lembrei de fatos que ocorreram comigo quando servi
ao Exército.
Analisando a trajetória do foguete fujão, dá para
perceber que foi falha do material. Inicia com o mesmo trajeto dos outros e se desvia.
Usando uma bazuca em um exercício de campo, tendo como
um alvo uma carcaça de fusca, aconteceu o mesmo. Bazuca firmemente assentada,
projétil ligado à mesma (com dois fiozinhos) mira no alvo a mais de 100 metros,
em uma colina, o aviãozinho, como chamávamos, saiu reto prevendo o acerto. Ledo
engano, a munição da segunda guerra, sabe-se lá, desviou para a direita e
derrubou uma pequena árvore.
Numa segunda tentativa acerto no alvo.
Mas quando a falha é humana?
Aconteceu comigo também. Não, não falhei e por pouco
não houve vítimas. Conto.
Passei em primeiro lugar no curso de cabo com um dos
testes que mede a inteligência espacial. Aquela em que você se situa no mundo e
consegue ver posições de um determinado projeto sem precisar de desenho. A grosso
modo, seria projetar na memória, inclusive com cálculos. Com isso a topografia
foi a QMP – Qualificação Militar Particular – a mim destinada. A QMG – Qualificação
Militar Geral – era a Artilharia auto Rebocada.
Alguns meses de treinamento e fui designado para fazer
o levantamento do campo de tiro para o exercício com munição real. Depois de
montar acampamento, saí em campanha e montei o diagrama, com cálculos num
percurso de alguns quilômetros. O resultado final passei para a Central de Tiro
que finalizou os dados até cada canhão que formava a primeira bateria de
canhões 75 mm. À tarde, fui convidado pelo Tenente para acompanhar os tiros, na
Central de comando que ficava em frente à colina onde estavam os alvos. Quatro
no total.
Todo o cenário montado, o Coronel comandante, ordenou
o primeiro tiro – o teste inicial para, se necessário fosse, corrigir os
próximos.
Ordem dada, ouviu-se o estampido e o ruido característico
dos flaps do projétil. Passou por cima de nós, dos alvos e da colina, indo
detonar atrás da mesma.
Coronel e Tenente se entreolharam, provavelmente nunca
tinham apreciado erro tão grande. O Tenente me olhou e eu fiz um gesto que não
sabia o que estava acontecendo.
Confabularam e passaram novas coordenadas para a Central
de Tiro. Com nova ordem repetiu-se o ocorrido. Aí não teve jeito. O tenente
chegou-se e pediu o levantamento. Examinou-o e chegou a mesma conclusão que eu:
estava correto. Transmitiu ao Coronel. Resolveram passar novas coordenadas e
repetir o teste. Não houve mudanças.
Com não apareceu melhoras, lembrei do curso em que
diziam que os tiros de testes eram dados da primeira ou terceira peça. Transmiti
ao Tenente e este ao Coronel: Atirar com a terceira peça.
Transmitidas as instruções, veio a ordem de fogo. Por
questão de metro, não explodiu o terceiro alvo.
Pronto. Fogo à vontade.
O que ocorreu? Falha humana. Ao buscar com o aparelho
ótico do canhão a sua baliza, a equipe pegou a baliza do canhão vizinho.
Fiquei de alma lavada e enxaguada.