COSTELÃO DE NOVILHA

COSTELÃO DE NOVILHA
A PROVA DE QUE APRENDI A ASSAR...

segunda-feira, 14 de novembro de 2022

Pai Bento Carvalho.

  

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PAI BENTO CARVALHO
Minha mãe escreveu suas memórias. Vida excepcional gravada em livro. Pois modestamente pretendo preencher a lacuna que ficou pois faltou a outra metade da laranja: relembrar a trajetória de meu pai. De caboclo bruto a nome de Rua em Ijuí. Esse é o esboço do que pretendo. Vou alongar essa conversa inicial à medida que me venham as lembranças e antes que o velho alemão (Alzheimer) me assalte de vez.
Há datas que mexem com a gente de maneira a recordar coisas, fatos, ensinamentos, alegrias, tristezas, vida...
Hoje quero tecer loas a um Homem, assim com H maiúsculo de posturas retas mas, como todo humano, com falhas. Essas não se faz mister contemplá-las mas sim as virtudes que sobejamente superam-nas (às falhas). Isso com certeza devem ter sido alvo de esclarecimentos no interregno entre duas vidas terrestres para seu aperfeiçoamento evolutivo. Isso é o que pretendo também com os meus erros, seguindo-lhe os passos.
Filho de um “pelo duro” que bateu os costados em Santana do Livramento e se casou com uma Uruguaia, puxando pra alemã. Não sei de fato sua origem, pela foto que vi apenas uma vez, tez clara, olhos claros, cabelos claros...
Com escaramuças fronteiriças com os castelhanos no final do século XVIII meu avô vendeu as propriedades na fronteira e adquiriu terras em Santa Maria. Conforme relatos de parentes, parece que na região do Bairro Camobi. Terras essas vendidas com a morte do meu avô.
Por sua vez, bateu os costados em Alto da União, povoado situado entre Ijuí e Cruz alta. Lá sabendo das atividades de meu avô, pai de minha mãe, e que por infortúnio estava cego, resolveu pedir para trabalhar com ele. Se enrabicharam o velho e a velha que na época eram novos e sucedeu-se que casaram. Andaram pela colônia nova aberta em Santa Rosa.
SANTA ROSA.
Na nova colônia de Santa Rosa, construiu um açude onde tirava peixes para alimentação e água para a lavourinha de arroz. Plantavam milho e feijão. Retirava moirões para cercas das sua mata com uma técnica milenar: abatia as árvores próprias, deixava-as secar na própria mata, depois de um certo tempo, tirava a polpa por fora e deixando o cerne que era separado em moirões que vendia aos vizinhos.
Não prosperaram pois primeiro aconteceram tempestades que destelharam o rancho que era coberto de tabuinhas. Depois a febre tifoide pegando filhos e o próprio. Para derrotá-lo, finalmente, no ponto de geração dos grãos, as sucessivas nuvens de gafanhoto. Os moirões não lhes davam sustento e sem os grãos, iriam passar fome. Voltaram para o Ijuhy.
IJUHY
De volta à Ijuí, iniciou a trabalhar na Prefeitura. Serviços da Hidráulica, ajudou a implantar a Usina Velha no rio Potiribú, dominou a eletricidade, ajudou a construir a rede elétrica da cidade, fazia instalações elétricas e hidráulicas residenciais. Aposentou-se na Prefa, como dizia.
FALECIMENTO
Faleceu novo. Cinquenta e nove anos. Sofrimentos físicos oriundos de trabalhos braçais, ocorrências na rede elétrica em noites de tempestades e falta de estrutura normal para a época (da abertura de buracos para os postes, seu erguimento, furação para os equipos e tensionamento dos fios) minaram sua resistência de homenzarrão que era. Alimentação rica em gordura culminou com doença cardíaca sem os recursos que hoje me mantém vivo com os mesmos problemas que os seus.
TRANSMISSÃO DE CONHECIMENTOS.
Foram vários. Entre eles o gosto em assar um churrasco.
Tempos atrás, escrevi sobre o churrasco que ele gostava de fazer:
Bento Carvalho
Comecei a conviver mais com meu pai, a partir do início de entendimento da vida. Lembro de muitas coisas em tenra idade. O episódio do feijão no nariz e a foto para a carteira do IAPFESP (o INSS do Pai). Mas começar a aprender coisas, vivenciá-las, participar, só após os 10 anos. Daí até os 17 anos, fui companheiro destacado pela mãe e irmãs, para acompanhá-lo nos horários fora de escola, dia e noite. Foram muitas tardes de várias chaleiradas de chimarrão e muitos domingos em que assessorei meu pai nos churrascos domingueiros. Por que isso marcou tanto? Acredito que pelos muitos ensinamentos passados por ele que me ajudaram a encarar a vida de um modo inquisitivo, investigativo. Aos 10 anos fiz uma calçada de tijolos, ao lado de minha casa que até bem pouco tempo ainda existia, a mais de 50 anos...Olhando, vendo com olhos de ver, perguntando, inquerindo e aprendendo... Foi assim também com os churrascos.
Não lembro de quando meu pai trouxe um espeto de madeira excepcional: uma forquilha (bifurcação de um ramo) perfeita de pitangueira, de, mais ou menos, 1,20 m. Numa das tantas medições de terra que ele executava, ele achou-a e trouxe para seus trabalhos na churrasqueira improvisada no buraco do chão que recebia as cinzas do forno à lenha. Já andei por muitos matos por aí em pescarias e caminhadas, moro em um lugar cheio de pitangueiras e até hoje não achei nada parecido com o espeto dele...
Ele só fazia churrasco em fogo de lenha. E tinha as lenhas especiais para fazê-lo. Eram os nós das madeiras que ele comprava para o fogão à lenha. Normalmente as toras vinham em metro e nós dois cortávamos com o traçador(serra comprida-2 m- com cabos em ambas as extremidades). Depois, à medida que podia, eu transformava em achas de lenha. Sobravam umas maiores normalmente com nós que eu não conseguia desmanchá-las. Essas eram as utilizadas pois davam melhores brasas. Havia um ritual que começava no sábado. Ao sair para o trabalho, ele me chamava e dizia, "Nego Déi (meu apelido de piá) vai lá no açougue do alemão bem cedo e pede para ele 2,5 kg de pá de paleta, se não tiver, o mesmo peso de agulha. Diz que é para mim que ele anota e depois eu pago. Lava bem 1 litro com água e feijão (método antigo para retirar qualquer sujeira de litros de vidro) e vai lá no gringo do vinho e trás um litro de vinho tinto seco. Também deixa preparado o buraco do forno e o espeto". Ordem dada, providências tomadas. Com a pá tirava as cinzas do buraco, fazia duas paredes baixas de tijolo para servir de base, trazia as lenhas, palha e sabugo de milho para iniciar o fogo e deixava o espeto de molho no tanque (era para não queimar o mesmo quando ia para o fogo)
No Domingo auxiliava a fazer o fogo, fazia a boneca ("bonecra" no dizer dele) de palha de milho verde ou de tempero verde, fazia a salmoura com três colheres de sopa de sal fino, alho e tempero verde.
Ele espetava a carne e amarrava um arame no cabo do espeto e a outra ponta cravava na carne para não escorregar se assasse com espeto em pé. E era assim que começava assando enquanto tinha labaredas no fogo. Depois de um certo tempo, antes de colocar o outro lado para assar, salpicava o assado com a boneca e a salmoura. Acompanhava de perto embevecido, como se estivesse assistindo um ritual executado por um pagé missioneiro num cerimonial da raça gaudéria... Repetia tantas vezes quantas necessárias para que ficasse com o tempero certo. Para apurar, concluía assando com espeto deitado. Nunca "selou" a carne com chamusqueio que hoje todo mundo relata que faz, porém sempre seu churrasco foi suculento e macio.
Sempre serviu mal passado, como todo churrasco tradicional relatado por SaintHilaire...
Churrasco simples, de gente simples, com carne que geralmente ninguém assa, mas que era motivo de satisfação de toda a família...

domingo, 23 de outubro de 2022

Deu Chabu

 A expressão chabu é usada quando um foguete de São João (pirotecnia) não estoura.  

Nestes tempos de Eleições Gerais no Brasil, vou usar essa expressão para detonar/estourar o TSE - Tribunal Superior Eleitoral.

Quando da posse do atual presidente do STE, houve uma pirotecnia estrondosa em torno da Notícia Mentirosa (fake news) amplamente usada na política pela campanha do atual mandatário do Governo Federal desde as Eleições Gerais de 2018. Ele elegeu-se usando fortemente as redes sociais, com a conivência dessas, usando o expediente com os chamados robôs. Nunca foram realmente combatidos por quem de direito.

Pois o Ministro deitou falação na sua posse, secundando o antigo detentor do cargo que já tinha, verborrágicamente, atacado o que seria abuso de notícias falsas envolvendo adversários políticos.

Pois é. Deu Chabu! Da pior maneira possível. Vou usar uma expressão chula para dizer que Bolsonaro tripudiou de todos os ministros que compõe o "Egrégio" Tribunal. Aqui um parêntesis: (egrégio

  1. 1.
    extremamente distinto; insigne, muito importante (diz-se esp. dos tribunais superiores e de seus juízes).
  2. 2.
    digno de admiração; notável, magnífico.).
  3. BOLSONARO CAGOU NA CABEÇA DO PRESIDENTE FANFARRÃO DESTE TRBUNAL.

O atual presidente, diga-se de passagem, eleito fraudulentamente por uma notícia mentirosa em 2018 que tirou o principal opositor da competição eleitoral, usou e abusou das Fake News (expressão menos dolorosa do que notícia mentirosa) em pleno Horário Eleitoral, todos os dias, em todas as redes de TV, em todas as emissoras de Rádio.

Pra culminar, o combate desse procedimento, que a princípio deveria, pelo posicionamento da posse, ser "de ofício", é feito por ação do lesado. Ora, se em cada propaganda houve mentiras, a cada uma delas foi pedido o famoso "Direito de Resposta" atravancando a pauta do Egrégio. O que fez então o impoluto Presidente da casa que comanda as eleições? Candidamente, sugeriu que as duas campanhas chegassem a um acordo.
Basta ver a disparidade entre uma campanha e outra.

"Das 29 representações registradas no TSE, 23 foram feitas pela campanha petista tendo como alvo a Coligação Pelo Bem do Brasil, do presidente Bolsonaro, portais na internet e outras figuras públicas. Quase metade delas diz respeito a pedidos de direito de resposta. Ao todo, são 12." Informações da CNN.

Não se comparam desiguais. Desiguais nos procedimentos, na vida pregressa, nas atuações políticas, na humanidade. Na HONRA.

Por isso, meus amigos, que o jogo de cartas marcadas continua, como disse o Jucá (Caju para os íntimos que o compraram) com Exército, Polícia Federal, Congresso, com STF(leia-se justiça em geral), com tudo (leia-se Cia, irmãos Koch, outras sopinhas de letras americanas, governo do Tio Sam e etc.).

E muitos dólares.

quinta-feira, 8 de setembro de 2022

À minha companheira Guria.


 


Pois tenho um imã que atrai os guaipécas (gauchês: cães sem dono pois abandonados foram). Mas gosto deles. No meu caso cadelas. Hum, cadelas não fêmeas. O meu harém das cuscas começou com a Milu. Salvei-a de uma gravidez de filhotes de cães muito maiores que ela, a esganada. Agora velhinha, está sendo tratada a pão de ló dentro de casa.  Depois veio uma de grande porte, a Jade, essa veio pequenina salva por minha filha em uma noite chuvosa e fria. Depois disso veio a Princesa metida a besta por ter um pouco mais pedigree de uma raça caçadora em banhado. Essa é alarife, latido estridente, não tem ouvido, mas também carinhosa. E por fim a Guria.

É um capítulo à parte. Nasceu de uma ninhada que a Jade teve embaixo de um galpão de um vizinho. Um vizinho mais próximo desse viu quando ele engambelou a Jade com ossos de churrasco e a colocou na caçamba de uma camionete e me avisou do ocorrido e da ninhada.

Recolhi a ninhada e a Guria foi a última que consegui resgatar. Não queria sair por nada desse mundo. Foi uma luta. Comprei ração para filhote e desmanchava no leite de vaca e dava em pires e lhes ensinei a lamber a mistura. Nesse meio tempo tive que viajar e consegui alguém pra cuidar deles. Dois morreram.

Quando voltei de viajem já havia se passado cinco ou seis dias do desaparecimento da Jade.

Continuei cuidando dos pequenos. Até que, quando completou sete dias, a Jade conseguiu achar o caminho de volta. Consegui salvar quatro, entre eles a Guria.

Resolvi ficar com ela. Era a única que desafiava a ordem de não entrar em casa e teimosamente entrava para urinar, para desespero da esposa. Corríamos com ela mais por farra e eu a admirava pela sua audácia e teimosia.

Encaminhei para adoção os outros três e fiquei com ela. Pelo histórico dos corridões ela não era afeita a contatos ou carinhos, coisa que as outras adoravam.

Passou um tempo e ela deu de desaparecer por períodos longos. Um adendo o meu portão ficava sempre aberto para elas irem e virem ao bel prazer. Porém ao cair da tarde estavam a postos para receberem a refeição oficial, pois queridas por todos tinham regalias e se fartavam tanto que, às vezes não queriam a minha gororoba.

Estranhei, mas como ela comparecia todo fim de tarde, não dei muita importância até que um outro vizinho me alertou que uma das cadelas tinha dado cria na casa ao lado e que os cachorrinhos estavam latindo e que eu deveria ver.

Pois a arredia nem mostrou que estava no cio, escondeu a gravidez e o nascimento! Para me certificar que era ela, quando saia depois de comer, eu a segui e vi entrando no pátio da casa em que deu cria.

Confirmado, esperei ela sair para outros lados e resgatei quatro filhotes lindos.

Os trouxe para casa e fiquei com eles no colo esperando que ela viesse ver o que ocorreu.

Aí não teve outro jeito, a mãe falou mais alto e ela teve que vir até mim e deixar lhe fazer afagos. Arrumei um cantinho para eles até fazer as doações. Depois disso castramos todas.

Pois bem, a chefe do bando sempre foi a Milu. O pessoal da cidade sabia que eu andava por perto, quando via a Milu. Via ou sentia um movimento meu, levantava e se eu saísse, ia me amadrinhando (gauchês: acompanhando).

Com a velhice da Fêmea Alfa, houve uma pequena desavença, até que a Guria manhosamente, ganhou a posição e está aceita pelas outras duas ainda fortes.

O pátio da minha casa está cercado e o do vizinho de cima também. Pois ela achou um jeito de pular o muro que nos separa, subir numa muretinha e pular por cima do portão do vizinho. Para me acompanhar nas minhas caminhadas.

Hoje tivemos que descer, a patroa e eu, para Santa Maria, ao sair, a Guria, como sempre, nos acompanhou até a parada. Até aí tudo bem, depois ela sempre volta. Mas um vizinha nos ofereceu carona e provavelmente ela não viu.

Voltamos de Santa Maria e depois de descansar, vi que precisava ir ao Supermercado. Como sempre ela junto. Fiz as compras e no caixa a moça me perguntou: O Sr. Veio para o centro hoje de manhã? Não, respondi. Pois ela veio entrou no mercado, olhou tudo e saiu. Foi para o lado da casa de sua filha(mora perto). Depois vi ela passando para o lado de sua casa.

Até aí tudo bem, como ela não viu o que aconteceu comigo, me procurou nos lugares em que está acostumada a me acompanhar.

Ao chegar no condomínio a Secretária me chamou para dizer que a minha companheira pede para abrir o portão para entrar e sair. Como assim perguntei. Ela late e em seguida uiva se posicionando perto do portão em que a visão da câmera a capta. Não é possível. Tem mais, continuou, veio na porta olhou bem para dentro e viu que o Sr não estava foi para o portão e novamente latiu e uivou. Saiu e um tempo de pois (o tempo que levou procurando por mim na cidade) veio se posicionou latiu e uivou novamente para que eu abrisse.

Não há amor maior que esse e quem disse que não são inteligentes

segunda-feira, 15 de agosto de 2022

Brasil pátria educadora

 

Pois bem, um dos maiores programas de incentivo à educação foi boicotado nos municípios. Em 2015, ouve uma profusão de anúncios de creches alardeados pelas prefeituras Brasil a fora. O que isso significaria?

Primeiro, diminuiria a dependência das prefeituras de organizações particulares – primeiro ponto negativo na visão dos prefeitos pois tiraria oportunidades de eventuais negociatas a seu favor ou ao favor de compadrios.

Segundo, deveriam gerenciar com eficiência e eficácia, um estabelecimento moderno, com infraestrutura de primeiro mundo e isso demanda pessoal altamente treinado (e remunerado).

Terceiro, os prefeitos foram colocados à prova no trato com empreiteiras, já que toda a execução da licitação à execução estaria sob sua gestão. Ao governo federal cabia somente o projeto e o financiamento.

Quarto, como havia já em curso o movimento para destituir Dilma da presidência, toda sorte de boicote servia para ajudar no mister.

Então, como exemplo do que explanei, cito uma reportagem do Diário de Santa Maria sobre as 10 creches prometidas e não concretizadas.

DEZ (10). DEZ!

Os problemas alegados foram de ordem de execução: Editais mal feitos. Empreiteiras não idôneas que não tinham cacife. Falta de complementação de verba.

Na complementação de verba, ingerência ou falta dela dos deputados federais que encaminharam as emendas orçamentárias. Se beneficiaram quando das proposições e mais não fizeram.

O fato, triste, foi que não aconteceram e o dinheiro público aplicado, está sendo corroído pelo tempo que desgasta o que não é usado. De creches só nos alicerces até creches quase acabadas, apodrecem, criam mato, tem seus materiais que foram usados ou não, roubados pois como não há vigilância em algo inacabado, gera oportunidade a quem se acha no direito de usufruir.

Note-se que os prefeitos foram de partidos(PMDB E PSDB – Schirmer e Pozzobon) que historicamente, ao menos no Rio Grande do Sul, sempre agiram contra o Partido dos Trabalhadores.

Para confirmar o que disse, há o exemplo de Itaara. Foi contemplada com uma creche em emenda do Deputado Paulo Pimenta. A certa altura, ouve problema de complementação de verba e estava indo para o mesmo caminho de Santa Maria. Pois quando o Deputado soube imediatamente agiu e hoje temos a flamante Gralha Azul atendendo nossas crianças, com enfoque moderno e seguidamente atualizado.

Era isso por hoje, Domingo, 07 de Agosto do ano santo de 2022.

sexta-feira, 13 de maio de 2022

Exército Brasileiro

 

Ao ler sobre o episódio do foguete que se desviou da rota e caiu em uma lavoura, lembrei de fatos que ocorreram comigo quando servi ao Exército.

Analisando a trajetória do foguete fujão, dá para perceber que foi falha do material. Inicia com o mesmo trajeto dos outros e se desvia.

Usando uma bazuca em um exercício de campo, tendo como um alvo uma carcaça de fusca, aconteceu o mesmo. Bazuca firmemente assentada, projétil ligado à mesma (com dois fiozinhos) mira no alvo a mais de 100 metros, em uma colina, o aviãozinho, como chamávamos, saiu reto prevendo o acerto. Ledo engano, a munição da segunda guerra, sabe-se lá, desviou para a direita e derrubou uma pequena árvore.

Numa segunda tentativa acerto no alvo.

Mas quando a falha é humana?

Aconteceu comigo também. Não, não falhei e por pouco não houve vítimas. Conto.

Passei em primeiro lugar no curso de cabo com um dos testes que mede a inteligência espacial. Aquela em que você se situa no mundo e consegue ver posições de um determinado projeto sem precisar de desenho. A grosso modo, seria projetar na memória, inclusive com cálculos. Com isso a topografia foi a QMP – Qualificação Militar Particular – a mim destinada. A QMG – Qualificação Militar Geral – era a Artilharia auto Rebocada.

Alguns meses de treinamento e fui designado para fazer o levantamento do campo de tiro para o exercício com munição real. Depois de montar acampamento, saí em campanha e montei o diagrama, com cálculos num percurso de alguns quilômetros. O resultado final passei para a Central de Tiro que finalizou os dados até cada canhão que formava a primeira bateria de canhões 75 mm. À tarde, fui convidado pelo Tenente para acompanhar os tiros, na Central de comando que ficava em frente à colina onde estavam os alvos. Quatro no total.

Todo o cenário montado, o Coronel comandante, ordenou o primeiro tiro – o teste inicial para, se necessário fosse, corrigir os próximos.

Ordem dada, ouviu-se o estampido e o ruido característico dos flaps do projétil. Passou por cima de nós, dos alvos e da colina, indo detonar atrás da mesma.

Coronel e Tenente se entreolharam, provavelmente nunca tinham apreciado erro tão grande. O Tenente me olhou e eu fiz um gesto que não sabia o que estava acontecendo.

Confabularam e passaram novas coordenadas para a Central de Tiro. Com nova ordem repetiu-se o ocorrido. Aí não teve jeito. O tenente chegou-se e pediu o levantamento. Examinou-o e chegou a mesma conclusão que eu: estava correto. Transmitiu ao Coronel. Resolveram passar novas coordenadas e repetir o teste. Não houve mudanças.

Com não apareceu melhoras, lembrei do curso em que diziam que os tiros de testes eram dados da primeira ou terceira peça. Transmiti ao Tenente e este ao Coronel: Atirar com a terceira peça.

Transmitidas as instruções, veio a ordem de fogo. Por questão de metro, não explodiu o terceiro alvo.

Pronto. Fogo à vontade.

O que ocorreu? Falha humana. Ao buscar com o aparelho ótico do canhão a sua baliza, a equipe pegou a baliza do canhão vizinho.

Fiquei de alma lavada e enxaguada.

quinta-feira, 27 de janeiro de 2022

O fetiche de Jacarta

 

O fetiche de Jacarta
Não se deve depreciar o potencial destruidor do bolsonarismo
Luciano Martins Costa
A leitura das principais publicações do País, a audiência de podcasts jornalísticos e dos programas de análise política do rádio e da TV deixam a impressão de que o presidente da República não se incomoda nem um pouco com as críticas, mesmo aquelas feitas em tom de deboche e de alta agressividade. É como se ele não apenas tolerasse, mas parece receber tais agressões com enorme prazer, como parte do preço a pagar por um projeto inconfessável.
A outra alternativa para entender esse comportamento seria considerar que Bolsonaro enlouqueceu.
Sim, de fato o presidente dá sinais de que transita num terreno muito próximo da insanidade. Mas não por esse comportamento. Bolsonaro age aparentemente como louco porque tem em mente um projeto que extrapola o campo do razoável. Bolsonaro e seus milicianos estão investindo num velho fetiche da extrema direita militar: a amputação do pensamento progressista da cena pública brasileira.
O desejo inconfessável
Em agosto de 1975, quando ainda estudante, participei de uma entrevista com o então comandante do II Exército, general Ednardo D’Ávila Mello, para um jornal-laboratório da FAAP, em São Paulo. Foi a primeira vez que ouvi, de um representante das Forças Armadas, uma referência direta ao fetiche que alimentava a extrema direita militar, um conjunto de crenças e desejos que explicam em boa parte a mentalidade que dominou o período da ditadura e sobrevive, ainda hoje, nas fileiras do bolsonarismo.
D’Ávila Mello era integrante da chamada “linha dura”, que se opunha ao projeto de distensão “lenta, segura e gradual” então conduzido pelo presidente, general Ernesto Geisel. Sob a liderança do general Sylvio Frota, oficiais de alto escalão conspiravam abertamente contra as medidas que sinalizavam o caminho para o fim do regime de exceção.
Em determinado momento daquela entrevista, o comandante, irritado com uma pergunta de uma das duas colegas que estavam comigo na sala, disse claramente: “É por isso que vamos levar adiante a operação Jacarta. O comunismo está envenenando os jovens, precisamos conter isso”.
O que o havia irritado era a insistência dessa colega em discutir com ele se o Brasil vivia ou não sob uma ditadura. “O Brasil é um país democrático”, ele havia dito. “Todos têm o direito de ir e vir – eu mesmo acabo de viajar para Fortaleza e ninguém me impediu”. A estudante de jornalismo riu de sua platitude e argumentou com referências a prisões, censura, e foi interrompida pela citação emblemática sobre Jacarta.
Para ser muito claro, o general Ednardo d’Ávila Mello declarou, sem sutileza: “Vamos neutralizar dois mil comunistas aqui em São Paulo, que estão na imprensa, na televisão e nas universidades doutrinando os jovens”.
Uma morte no caminho
Dois meses depois dessa entrevista, que nunca foi publicada, o Doi-CODI de São Paulo, sob ordens diretas do general Ednardo, começou a prender jornalistas, professores, sindicalistas, quase todos ligados de alguma forma ao Partido Comunista Brasileiro. A operação só foi interrompida pela morte do jornalista Vladimir Herzog, então diretor de jornalismo da TV Cultura, que havia se apresentado espontaneamente para o depoimento e foi barbaramente torturado.
A reação que se seguiu ao assassinato, com manifestações de protesto de muitas entidades, inclusive de governos estrangeiros, suspendeu as prisões. Mas o projeto foi retomado logo em janeiro do ano seguinte, quando também foi morto sob tortura o operário Manuel Fiel Filho, que não era ligado ao PCB mas militava nas Comunidades Eclesiais de Base da igreja Católica.
Geisel trocou o comando do II Exército, mas o núcleo ligado à linha dura seguiu conspirando, até 1981, quando um grupo de militares organizou um atentado que poderia matar centenas de pessoas num show comemorativo do Dia do Trabalho, no centro de convenções Riocentro. Um erro do sargento encarregado de armar uma bomba no local onde se juntavam milhares de espectadores causou a explosão antecipada do artefato.
A intenção dos terroristas era causar uma tragédia e, com a ajuda de jornalistas favoráveis à ditadura, lançar a culpa em grupos de oposição, para justificar a reversão do processo de abertura democrática e colocar em andamento a tal “operação Jacarta”.
Por que essa lembrança agora?
O jornalista americano Vincent Bevins foi correspondente do Los Angeles Times no Brasil entre 2011 e 2016, tendo trabalhado antes para o Financial Times em Londres. Em 2017, assumiu a cobertura do Sudeste asiático para o Washington Post, com sede em Jacarta, Indonésia. No ano seguinte, ele começou a escrever a reportagem que, hoje, é uma fonte essencial para entender o Brasil sob o fascismo de Jair Bolsonaro.
Sua investigação rendeu o livro, ainda não publicado em português, intitulado “The Jakarta Method: Washington's Anticommunist Crusade and the Mass Murder Program that Shaped Our World”. Foi considerado por várias fontes o livro do ano de 2020. A obra relata como a CIA atuou na Indonésia, entre os anos de 1965 e 1966, criando condições para os assassinatos em massa de cerca de um milhão de pessoas, entre militantes do Partido Comunista, estudantes, professores, ativistas sociais e jornalistas que defendiam reformas no regime de governo e a modernização da sociedade.
A Indonésia passou a receber massivos investimentos estrangeiros e se transformou numa sociedade amorfa, dominada por uma casta militar, incapaz de produzir um pensamento original sobre si mesma. A inteligência foi eliminada.
O livro se estende a outros países, entre os quais o Chile, Argentina, Peru e Brasil, onde operações semelhantes foram executadas ou planejadas nos anos seguintes. Esse era o projeto do general Ednardo d’Ávila em 1975, ressuscitado em 1981 no Rio de Janeiro e ainda animando o núcleo fascista do atual governo brasileiro. Até 1987, por exemplo, o Doi-CODI seguia atuando, ainda que dissimuladamente, espionando os parlamentares constituintes, jornalistas e intelectuais, ainda na alimentação do fetiche.
Essa lembrança é relevante porque Jair Bolsonaro e os militares que servem ao seu governo, quase sem exceção, representam o que resta do núcleo do Exército que tem saudades da ditadura. O general Augusto Heleno Ribeiro Pereira, que, quando capitão, foi ajudante de ordens de Sylvio Frota, é o chefe do Gabinete de Segurança Institucional do atual governo. Em muitas posições estratégicas há militares com semelhante perfil antidemocrático.
Desejo de matar
Nas entrelinhas das ameaças que o presidente continua a proferir semanalmente rosna o fetiche ensandecido: nas milícias bolsonaristas, acalanta-se o desejo de cortar as cabeças da oposição progressista e de esquerda, eliminar o pensamento crítico, reduzir à insignificância a massa crítica da sociedade.
Mas a matemática da insanidade também é inflacionada: em 1975, o então comandante do II Exército calculava que a eliminação de 2 mil comunistas tornaria mais fácil a vida da ditadura. Em 2019, o deputado Eduardo Bolsonaro disse em uma rede social que é preciso “neutralizar com morbidade” 30 mil brasileiros que lideram essa oposição ou se destacam na disputa que rola nas mídias sociais.
Recentemente, os jornalistas Jamil Chade e Lucas Valença, da Folha de S. Paulo, revelaram que o “gabinete do ódio”, núcleo estratégico do atual governo, está tentando adquirir em Israel um programa de hackeamento, supostamente para ser usado na espionagem de candidatos oposicionistas durante a próxima campanha eleitoral.
Os dois jornalistas, principalmente Chade, passaram a ser ameaçados por milicianos digitais.
A agressiva reação da milícia indica que o objetivo não é apenas espionar candidatos: trata-se de nova tentativa de colocar em movimento a “operação Jacarta”, na ocasião em que, tendo perdido a eleição presidencial, Bolsonaro decidir detonar o caos no Brasil.
Os indivíduos que, neste momento, ocupam postos relevantes nas instituições da República, não podem continuar se omitindo diante da loucura anunciada. Não é aconselhável depreciar o potencial destruidor do bolsonarismo.
Qual seria, afinal, o significado de “neutralizar com morbidade”?

quarta-feira, 19 de janeiro de 2022

Atravessando Santa Maria da Boca do Monte

 


Pois saí da antiga Santa Maria Vista do Monte (Itaara-RS) para procurar umas peças pro meu mobiliário ganhado, numa manhã tórrida deste que é o pior verão em termos de calor (as estatísticas não mentem) na Santa Maria da Boca do Monte.

Além de não achar, fiquei com um tempão livre entre um horário de ônibus e outro, dentro do vulcão já extinto mas com fulgores de super ativo.

Mas mesmo assoleado(1) e sendo extraído meu suco através da pél(2), meu senso de observação não ficou sufocado.

Durante todo o trajeto entre a ponta da Rua do Acampamento e o extremo da Avenida Rio Branco, contei 5 pessoas muito competentes no seu empreendedorismo vendendo lanches/doces/salgados/líquidos acondicionados em caixas de plástico ou isopores. Com vestimentas simples mas limpas e alinhadas, desafiavam a pior calçada, por ser batida direta pelo sol inclemente.

Muitas pessoas simples/humildes(3) em filas estendidas ao sol esperando alguma migalha  governamental (entreouvido en passant) na Caixa federal.

Noutro banco, umas 30 pessoas amontoaram-se na sombra da marquise do prédio esperando sua vez de ser atendido e fugindo dos raios fogosos do sol.

Se evitar aglomeração era a função da fila no exterior do banco, esta não foi cumprida nos dois bancos. Até para dar algum benefício ou realizar um atendimento banal, o status quo sacrifica seu povo.

Em chegando à porta do supermercado, fui abordado por um senhor que educadamente me pediu que comprasse um pão e uma fatia de mortadela (4) pois estava com fome e me  mostrando um saco de ráfia com algumas pets e latinhas, disse que hoje estava difícil e com certeza até o meio-dia não tiraria dinheiro suficiente. Estava pedindo que eu comprasse pois queria dar certeza para mim de que não era para outro fim. Esqueci até do que ia comprar. Comprei uma embalagem com poucas fatias de mortadela e outra com 3 pães(5). Me liberei do caixa e entreguei a sacolinha para ele. Com um sorriso de orelha a orelha, não sabia como me agradecer...

Sentado em frente ao meu pc, vendo minha “time line” me deparei com uma postagem do amigo Miguel Ângelo Monteiro que trazia um pensamento de “Café com Música e Filosofia, por favor”, que dizia:

O POBRE SÓ NÃO ESTÁ PASSANDO MAIS FOME PORQUE OUTRO POBRE ESTÁ SEMPRE AJUDANDO. A VERDADE É ESSA!

1 -Significado de Assoleado

adjetivo, substantivo masculino[Regionalismo: Rio Grande do Sul] Aplica-se a qualquer animal que teve o aparelho respiratório comprometido em razão de marchas forçadas ou muito trabalho em dias de calor.

2 – Pél – Pele. Usada a primeira vez no dito popular “Como é difícil tirar a pél do pesco (pêssego)(gauchês).

3 – pessoas simples/humildes – Só o povão entra em fila de banco. Quem tem muito, tem outras opções de atendimento, sem sacrifícios.

4 - um pão com mortadela – Símbolo de luta do PT.

5 - Embalagens com pouquíssimas unidades: Sinal dos tempos. 

 

quarta-feira, 12 de janeiro de 2022

SEPARANDO O JOIO DO TRIGO

 Ao meu amigo facebuquiano Major Paulo Tito

Meu possível deputado favorito, me permita discorrer sobre sua atual atividade no seu sítio. Vi uma postagem dessas que fazem para defender o Agro business em que apareciam 4 fotos de produtos da agricultura familiar e uma mensagem que dizia, mais ou menos assim: “O dia que o povo comer pedra e beber petróleo vão dar valor ao Agronegócio”. Discordei e lembrei do amigo que pelo nível cultural já reparado por esse simples escriba, já sabe sobejamente disso que dissertei

Vamos separar o joio do Trigo.

No final da década de 1950 e inicio da década 1960 começou a ser implantada a cultura da Soja. Tínhamos as pequenas propriedades como maioria de estabelecimentos rurais. Plantavam e produziam de tudo. Mas de tudo mesmo. Só compravam tecido e sal. O resto todo que precisavam, produziam. Eram chamados de colonos fortes. Sabemos que com 50 ha não tem como plantar duas culturas somente. Por exemplo: trigo e soja ou trigo e milho. Também sabemos que pra culturas extensivistas como é a Soja, há necessidade de maquinário e aí vem a quebradeira geral ocorrida na década de 1960. O minifundiário se atracou a comprar trator e equipamentos (financiados), largou os seus bois vendeu vacas, porcos e galinhas, desmatou o que restava de mato e dele soja até na porta de casa. Só que mesmo com uma safra espetacular o valor produzido não cobria custos com os empréstimos feitos nos bancos ou sobrava muito pouco para suporte financeiro da família no resto do ano. Quebradeira geral com os bancos tomando as terras e gerando o famoso Êxodo Rural. Muito pouco sobrou de pequenos agricultores familiares. Os lindeiros que podiam, arrematavam em leilões as terras dos inadimplentes. Há hoje uma divisão muito clara dos dois tipos de proprietários rurais. Os granjeiros ou estancieiros e os agricultores familiares, normalmente dedicados a esses produtos que está na foto. Isso alimenta o povo. Se eles caírem e pode acontecer devido a falta de financiamento para esse segmento, os lindeiros de hoje, comprarão para aumentar sua área de culturas extensivas. Se isso acontecer, iremos comer pedras e beber petróleo. SMJ, ou Salvo Melhor Juízo. Abraços fraternos de Ano Novo

terça-feira, 4 de janeiro de 2022

Carta ao Lula

 Dolores Pineda

2 de janeiro às 12:53 ·
LULA, EU NÃO ME FILIEI AO PT. (Por Eliézer dos Santos Oliveira)
Lula
Eu votei no PT, eu votei em ti, eu carreguei a bandeira no ombro indo para a faculdade ouvindo toda a espécie de xingamento, eu fiz inimizades por causa de discussão política, eu vibrei com cada vitória do Partido dos Trabalhadores, eu defendi com unhas e dentes os governos do PT - e ainda assim, não me filiei ao PT.
Lula
Eu sempre disse que o PT é o maior partido de esquerda de nossa história nacional e que tu és a maior liderança política da América Latina e uma das maiores do mundo. Eu apoiei esse partido e os seus candidatos, fiz campanha política para cada um deles, acompanhei-os nas derrotas e nas vitórias, nunca entrei junto pela porta do palácio, nunca sequer entrei oficialmente no partido porque julgava precisar de certo distanciamento crítico, e, por essas razões, não me filei ao PT.
Lula
Quando o PT deu uma guinada da esquerda para uma postura centro-esquerda, quando fez do socialismo mais um valor do que um projeto eu não aguentei. Passei a votar e a fazer campanha para políticos e partidos que, em tese, estavam mais à esquerda do PT. Algo que não era fácil de ser feito já que muitas vezes percebia o quanto a direita gostava de usar o discurso feito pela “esquerda mais radical” para criticar o PT, justamente, por aquilo que ele ainda tinha de esquerda. Ainda assim, não teve segundo turno que eu não tenha votado no PT, nem tenha deixado de fazer campanha aberta, pública, combativa em prol do PT, e claro, nesse tempo de duros embates, eu não me filei ao PT.
Lula
Nos governos presidenciais do PT eu fui um grande crítico. Achava e continuou achando que os governos do PT deveriam ter feito mais, deveriam ter colocado o dedo na ferida, transformado a estrutura econômica (tributária, política, midiática, ideológica, fundiária...) deste país. Os importantes programas sociais e os elevados investimentos em políticas públicas eram louváveis, mas me pareciam meros paliativos, próprios de quem não queria aprofundar a transformação estrutural do país. É claro que eu os defendia da crítica elitista da direita branca que não aguentava ver o povo ascendendo socialmente. É claro que eu vibrei com a expansão dos direitos sociais básicos, é óbvio que era bom viver num país que expandia a educação, a saúde, a moradia, o saneamento..., mas como eu achava que ainda era muito pouco, eu não me filei ao PT
Lula
A partir do final do primeiro governo da Dilma eu acendi uma luz de alerta no meu censo crítico. O que o PT fazia era muito pouco, pensava eu e muita gente de esquerda, muita gente do próprio PT, entretanto, isso que nos parecia pouco já havia ultrapassado o limite de inclusão social suportado pela elite nacional (racista, elitista, homofóbica, machista, entreguista). As reiteradas críticas da mídia burguesa, os ataques de ódio dos coxinhas, o alarde feito pelos políticos golpistas, o alto investimento dos EUA para criar grupos de combate ao PT, a ação da burguesia nacional para não reeleger e depois para derrubar a Dilma me ensinaram algo importante: Se o PT não tinha feito tudo aquilo que queríamos, certamente já tinha feito muito mais do que a direita nacional tolera. E graças à dialética, a direita me ensinou a ver o que eu não conseguia ver com os olhos da esquerda. A direita me ensinou, pelo reverso, o quanto, no atual contexto de nossa história nacional, o ato de um pobre comer, de uma pessoa sem-teto conquistar uma moradia, de um filho de faxineira se tornar médico, de um negro ser colega de universidade de um branco, de um trabalhador andar de avião ou comprar o carro zero, de um professor tratar sobre “gênero” na escola... são, no atual momento histórico concreto, atos revolucionários. Ainda assim eu não me filei ao PT.
Lula
A vida se tornou difícil no pós-golpe. Retrocedemos. Perdemos direitos. Investimentos sociais foram cortados. Os ataques aos direitos trabalhistas não cessam. A corrupção se tornou normal e acontece a céu aberto para salvar o ilegítimo de perder o seu governo carcomido pelos abutres que financiaram e deram o golpe contra o PT, contra a Dilma, mas, sobretudo, contra a classe trabalhadora. A direita sabe (a mídia burguesa, a polícia federal tucana, a justiça burguesa, os partidos de direita, os golpistas, o imperialismo, a burguesia nacional, os coxinhas, os banqueiros, a classe média alta, os fundamentalistas religiosos, os racistas, os homofóbicos, os machistas, os defensores da ditatura militar, o agronegócio... enfim, todos eles sabem) que tu podes estragar os planos deles. Quanto mais batem em ti, mais cresces nas pesquisas. Nenhum candidato da direita decola. Os outros partidos de esquerda não têm candidato para o páreo eleitoral (na melhor das hipóteses, se juntar todos não chegam a 5% dos votos). E por isso te querem destruir moralmente, te impedir de ser candidato, te prender, impossibilitar que tu governes. Sabendo que apenas o Lula do PT poderá derrota-los eles apontam as armas para ti e nós, que precisamos derrota-los, vemos em ti a nossa melhor esperança. Por isso, eu tenho te defendido como alguém que é filiado ao PT, ainda que eu não seja filiado ao PT.
Lula
Sei que em caso de vitória eleitoral não será fácil para ti governar. Não espero que num novo governo teu tu sejas capaz de dar aquela guinada bem à esquerda que gostaríamos. Mas sei que enfrentarias tudo o que o governo do golpista aprovou, sei que revogarias o que foi aprovado, sei que melhorarias a vida do povo. Se eu pudesse te pedir uma só coisinha seria essa, faz o que fizeste, mas tencione um pouco mais as coisas à esquerda. Temo que o golpe iniciado se consume com a ilegítima impugnação de tua candidatura, ou com o golpe do parlamentarismo que te impeça de governar, ou com qualquer outra proeza indiscreta que a direita brasileira sabe fazer. Por isso estou lutando com todas as forças na defesa de tua candidatura, dizendo aos quatro ventos que “ELEIÇÃO SEM LULA É FRAUDE”. Luto como um filiado, ou melhor, mais do que muito filiado ao PT, ainda que eu não seja filiado ao PT.
Lula
O fato de cada santo dia ter que assistir, as vezes de forma aberta, noutras de forma sútil, as mentiras que inventam a teu respeito, sem apresentarem nenhuma prova... o fato de tu seres a pessoa mais bem investigada em toda a história do Brasil e até agora não terem apresentado nada além de convicções ideológicas previamente definidas sem o devido julgamento justo e imparcial.... o fato da direita bater tanto em ti... só nos trazem uma certeza: tu és o candidato que a direita teme e treme, porque tu és tudo o que ela não é, tu és tudo o que ela não quer.
Lula
O conjunto de algumas discordâncias ideológicas que eu tenho para com o PT, o meu estilo mais livre quase-anárquico, a minha necessidade de um certo distanciamento crítico do partido até hoje me impediram que eu me filiasse ao PT. Porém, dado o momento crítico no qual estamos vivendo, ainda que eu não seja filiado ao PT eu estou lutando com todas as minhas forças contra o golpe em curso;
Lula
Frente aos inúmeros ataques desumanos que sofres, diante dos golpes covardes que atentam contra a tua reputação, perante as atitudes sacanas de quem te quer humana e politicamente destruído, antes as manobras imorais e antiéticas que assistimos todos os dias, de tanto ouvir os discursos cínicos e descabidos de quem quer te desqualificar, presenciando a perseguição implacável que movem contra a tua pessoa pelo fato da tua pessoa representar a classe trabalhadora (que eles querem sempre explorar mais e mais, e ainda mais...), vendo o que fizeram com a tua família, sobretudo, com a Marisa, conhecendo as reais intenções de quem prega moral de cuecas sujas, diante de tanto ódio que movem contra ti e contra quem te defende, Lula, ainda que eu não seja filiado ao PT, me dá uma vontade danada de me filiar.
Lula
Estarei em Porto Alegre no dia 24 de janeiro, lutando pela democracia, lutando pelo Brasil, lutando pelo futuro de meu filho, nesse momento crucial de sua história, nesse momento tão importante de nossa história nacional. Eu pensei bem antes de dar esse passo de filiação, mas apenas a luta nos espaços não-partidários não é mais suficiente, o que incomoda mesmo a burguesia e seus aliados (coxinhas, imperialismo, grande mídia, judiciário golpista...) é o fortalecimento do PT e eu, depois de muito refletir, estou disposto a isso.
Lula
Muito provavelmente tu não irás ler essa longa carta, mais provável ainda que nos encontremos, mas eu não me incomodo tanto que a gente não se veja e não se fale, porque eu sei que a grande parte do nosso povo também gostaria deste bate papo contigo e também não conseguirá (por razões óbvias de tempo e espaço) concretizar esse sonho. Somente em saber que estou junto deste povo sonhador eu já me dou por contente.
Lula
Boa Luta companheiro, tu não estás só, nós estamos contigo, porque confiamos que tu estás conosco.
Eliézer dos Santos Oliveira - Professor de filosofia do IFSul – Câmpus Santana do Livramento – RS.
Postado por Dimas Roque às 29.12.17
Doris E. Villalba, Lucia Berenice da Silva e 1 outra pessoa