Pois saí da antiga Santa Maria Vista do Monte
(Itaara-RS) para procurar umas peças pro meu mobiliário ganhado, numa manhã
tórrida deste que é o pior verão em termos de calor (as estatísticas não
mentem) na Santa Maria da Boca do Monte.
Além de não achar, fiquei com um tempão livre entre um
horário de ônibus e outro, dentro do vulcão já extinto mas com fulgores de
super ativo.
Mas mesmo assoleado(1) e sendo extraído meu suco
através da pél(2), meu senso de observação não ficou sufocado.
Durante todo o trajeto entre a ponta da Rua do
Acampamento e o extremo da Avenida Rio Branco, contei 5 pessoas muito
competentes no seu empreendedorismo vendendo lanches/doces/salgados/líquidos
acondicionados em caixas de plástico ou isopores. Com vestimentas simples mas
limpas e alinhadas, desafiavam a pior calçada, por ser batida direta pelo sol
inclemente.
Muitas pessoas simples/humildes(3) em filas estendidas
ao sol esperando alguma migalha
governamental (entreouvido en passant) na Caixa federal.
Noutro banco, umas 30 pessoas amontoaram-se na sombra
da marquise do prédio esperando sua vez de ser atendido e fugindo dos raios
fogosos do sol.
Se evitar aglomeração era a função da fila no exterior
do banco, esta não foi cumprida nos dois bancos. Até para dar algum benefício
ou realizar um atendimento banal, o status quo sacrifica seu povo.
Em chegando à porta do supermercado, fui abordado por
um senhor que educadamente me pediu que comprasse um pão e uma fatia de
mortadela (4) pois estava com fome e me
mostrando um saco de ráfia com algumas pets e latinhas, disse que hoje
estava difícil e com certeza até o meio-dia não tiraria dinheiro suficiente. Estava
pedindo que eu comprasse pois queria dar certeza para mim de que não era para
outro fim. Esqueci até do que ia comprar. Comprei uma embalagem com poucas fatias
de mortadela e outra com 3 pães(5). Me liberei do caixa e entreguei a sacolinha
para ele. Com um sorriso de orelha a orelha, não sabia como me agradecer...
Sentado em frente ao meu pc, vendo minha “time line”
me deparei com uma postagem do amigo Miguel Ângelo Monteiro que trazia um
pensamento de “Café com Música e Filosofia, por favor”, que dizia:
O POBRE SÓ NÃO ESTÁ
PASSANDO MAIS FOME PORQUE OUTRO POBRE ESTÁ SEMPRE AJUDANDO. A VERDADE É ESSA!
1
-Significado
de Assoleado
adjetivo, substantivo masculino[Regionalismo: Rio Grande do Sul] Aplica-se a
qualquer animal que teve o aparelho respiratório comprometido em razão de
marchas forçadas ou muito trabalho em dias de calor.
2 – Pél – Pele. Usada a primeira vez no
dito popular “Como é difícil tirar a pél do pesco (pêssego)(gauchês).
3 – pessoas simples/humildes – Só o
povão entra em fila de banco. Quem tem muito, tem outras opções de atendimento,
sem sacrifícios.
4 - um pão com mortadela – Símbolo de
luta do PT.
5 - Embalagens com pouquíssimas unidades: Sinal dos tempos.
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