COSTELÃO DE NOVILHA

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A PROVA DE QUE APRENDI A ASSAR...

quarta-feira, 19 de janeiro de 2022

Atravessando Santa Maria da Boca do Monte

 


Pois saí da antiga Santa Maria Vista do Monte (Itaara-RS) para procurar umas peças pro meu mobiliário ganhado, numa manhã tórrida deste que é o pior verão em termos de calor (as estatísticas não mentem) na Santa Maria da Boca do Monte.

Além de não achar, fiquei com um tempão livre entre um horário de ônibus e outro, dentro do vulcão já extinto mas com fulgores de super ativo.

Mas mesmo assoleado(1) e sendo extraído meu suco através da pél(2), meu senso de observação não ficou sufocado.

Durante todo o trajeto entre a ponta da Rua do Acampamento e o extremo da Avenida Rio Branco, contei 5 pessoas muito competentes no seu empreendedorismo vendendo lanches/doces/salgados/líquidos acondicionados em caixas de plástico ou isopores. Com vestimentas simples mas limpas e alinhadas, desafiavam a pior calçada, por ser batida direta pelo sol inclemente.

Muitas pessoas simples/humildes(3) em filas estendidas ao sol esperando alguma migalha  governamental (entreouvido en passant) na Caixa federal.

Noutro banco, umas 30 pessoas amontoaram-se na sombra da marquise do prédio esperando sua vez de ser atendido e fugindo dos raios fogosos do sol.

Se evitar aglomeração era a função da fila no exterior do banco, esta não foi cumprida nos dois bancos. Até para dar algum benefício ou realizar um atendimento banal, o status quo sacrifica seu povo.

Em chegando à porta do supermercado, fui abordado por um senhor que educadamente me pediu que comprasse um pão e uma fatia de mortadela (4) pois estava com fome e me  mostrando um saco de ráfia com algumas pets e latinhas, disse que hoje estava difícil e com certeza até o meio-dia não tiraria dinheiro suficiente. Estava pedindo que eu comprasse pois queria dar certeza para mim de que não era para outro fim. Esqueci até do que ia comprar. Comprei uma embalagem com poucas fatias de mortadela e outra com 3 pães(5). Me liberei do caixa e entreguei a sacolinha para ele. Com um sorriso de orelha a orelha, não sabia como me agradecer...

Sentado em frente ao meu pc, vendo minha “time line” me deparei com uma postagem do amigo Miguel Ângelo Monteiro que trazia um pensamento de “Café com Música e Filosofia, por favor”, que dizia:

O POBRE SÓ NÃO ESTÁ PASSANDO MAIS FOME PORQUE OUTRO POBRE ESTÁ SEMPRE AJUDANDO. A VERDADE É ESSA!

1 -Significado de Assoleado

adjetivo, substantivo masculino[Regionalismo: Rio Grande do Sul] Aplica-se a qualquer animal que teve o aparelho respiratório comprometido em razão de marchas forçadas ou muito trabalho em dias de calor.

2 – Pél – Pele. Usada a primeira vez no dito popular “Como é difícil tirar a pél do pesco (pêssego)(gauchês).

3 – pessoas simples/humildes – Só o povão entra em fila de banco. Quem tem muito, tem outras opções de atendimento, sem sacrifícios.

4 - um pão com mortadela – Símbolo de luta do PT.

5 - Embalagens com pouquíssimas unidades: Sinal dos tempos. 

 

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