Milú
Quatro letrinhas miúdas que descrevem uma cachorrinha miúda.
Peludinha, rabo de espanador, overa (branca e preta), dócil. Como defino se pisarem nela ela que
pede desculpas. Apareceu na área útil do condomínio abandonada pois estava
grávida. Tinha uma companheira abandonada também grávida e as duas deram cria em
um porão de uma casa em que as visitas dos donos são raras. A Milú deu cria a
duas cachorrinhas uma das quais, morta. A outra ainda está viva, adotada por
uma família. Quem vê a filha, não imagina a mãe: porte de pastor alemão
apequenado pela cruza. Tive a honra de alimentá-las, dar água, verificar
problemas, enfim cuidá-las sem ter a responsabilidade sobre elas como se elas
fossem minhas donas.
O tempo passou, houveram mais partos da Milú em outra casa,
à minha revelia. Nessa altura todas as pessoas adotaram de longe a Milú.
Recebeu vários outros nomes, um até sugerindo que fosse do sexo masulino: Gico.
Sempre alegre, brincalhona com crianças, respeitosa com adultos e inimiga feroz
dos gatos...
Mais um ano e a Milú engravidou novamente de cachorro
grande. Acompanhei a gravidez dando uma alimentação mais à base de ração. Isso
quando ela aparecia para comer, nômade
que era. Passou o tempo necessário para completar a gestação e quase não via a
Milú. Um belo dia dei de cara com ela na minha rua. Vinha pesada com uma
barrigona enorme. Fiz-lhe festa e ela não correspondeu. Parecia que não
escutava nada. Observei melhor e vi um líquido preto saindo de sua vagina.
Fétido. Procurei ajuda de um vizinho e levamos para o hospital veterinário da
UFSM. Cesariana, quatro filhotes enormes mortos, perda do Basso, Pâncreas,
pedaço do Fígado, pedaço do Intestino Delgado e de todos os órgãos
reprodutores. Uma semana dando antibióticos com comidinha boa. Milú estava boa
novamente, com uma mudança do comportamento nunca mais me abandonou. Se ouve os barulhos que faço normalmente para
sair, levanta de onde estiver e presta
atenção nos meus movimentos. Me acompanha onde tiver que ir. Se vou
tomar o ônibus, me acompanha até que embarque e volta para casa.
Dia desses, vendo uma reportagem sobre o amor de um cão por
um morador de rua hospitalizado, rezei para que ela se vá primeiro que eu. Para
que não sofra uma perda que não irá entender...
Os gatos, ah os gatos...
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