COSTELÃO DE NOVILHA

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A PROVA DE QUE APRENDI A ASSAR...

quarta-feira, 13 de março de 2024

Ode à dona Mariazinha.

 Dona Mariazinha, ou Vó Deza ou Dona Mariquinha, ou Dona Maria, ou Maria Augusta dos Santos Carvalho, nascida a 08 de Março do ano santo de hum mil novecentos e quatro, filha de Felício Hipólito dos Santos, alferes no Paraguai e Zulmira dos Santos, ambos de descendência portuguesa, pois pois.

Tive o prazer de participar de sua vida quando na puberdade e juventude, me afastando, já reservista e meio encaminhado na vida, para Porto Alegre. 

Não mencionei a infância pois ela esteve muito atuante no mister de "de menino é que se torce o pepino" do metido a "degas"(1) aqui.

Na transição, já com o "pepino endireitado", não tinha como escapar da ajuda necessária de muitas lidas que a inquieta Mariazinha achava que devia fazer. Em outros tempos que não o meu, morto o esteio da família o Alferes Felício, os irmãos ficaram tartamunhando sem iniciativas  para produzir os alimentos necessários para a vida da Colônia, tomou as rédeas e fez com que eles na roça de milho fizessem vergas com os bois em filas na distância regulamentar e deixassem pra lavrar no intervalo para depois que o plantio fosse feito. Extremamente prática, não se deixava abater pela pobresa que sempre rondou sua trajetória. Fome nunca passamos pois suas "invencionices" davam um jeito de suprir nossas necessidades. Era um planta diferente (exemplo: feijão guandu ou ervilha dos  índios) nos matando a fome com um osso carnudo a nos dar proteína cozido junto. As galinhas no galinheiro para ovos e carne. As árvores frutíferas que vicejavam no quintal amplo. Delas muitas vezes tirava um dinheirinho pra uma roupa, um calçado,um corte de tecido...

Essas lidas me deram aprendizado muito bom em ter conhecimento bem diversificado e que me auxiliaram na vida profissional, balizaram meu caráter colaborativo e analítico. Saber suprir necessidades usando de coisas à nossa disposição, observar, saber onde buscar suprimentos, enfim, estar "antenado" para resolver problemas técnicos ou  do dia a dia.

O que tenho muito vívido nesta minha "mala de garupa da cachola" era o aproveitamento que ela fazia das frutas da estação. Frutas das comadres que eram muitas e as doavam e quem tinha que ir apanhar era eu, com prazer diga-se de passagem pois sempre gostei de comer fruta direto do pé. Uma esfregada na camisa e "boca? pra que te quero?"

Ela descobriu, certa vez que um comerciante forte de Ijuí dos anos 1950/60 vendia frutas secas pra fazer chá ou doces de calda; todo o tipo de doces duro (goiabada, perada, pessegada, uvada, figada); doces moles tipo chimia (schimier em alemão) e geléias e que gostaria de vender esses mesmos mas artesanais. Juntou a fome com a vontade de comer!

Arrumou um tacho de cobre emprestado e nas devidas época de cada fruta, nosso patio transformava-se em uma doceria. Fogo de chão com alguns tijolos, o tacho equilibrado em cima, uma pá de madeira de Pinho (araucária ainda existente) uma labuta de descascar, tirar a polpa e moer na máquina de moer carne, separar caroços e cascas para fazer geléia. A par disso, preparar também frutas com cascas para secar entre duas peneira ao sol. Doces e passas feitos logo entregues por um bom dinheirinho no Bernado Gressler. Algum desses sempre ficavam um pouco pra consumo da família, principalmente os netos que os degustavam com gosto.

Para os netos também tinha os negrinhos/brigadeiros dos doces duros. Os docinhos de leite e as cocadinhas. Os pães de minuto e as cucas.

As coisas em que coloquei atenção, refaço pra consumo próprio. Hoje mesmo fiz uma chimia de goiaba. Acontece que moro em um condomínio em que as frutas estão presentes: limões, laranjas, cerejas, caquis, goiabas, bergamotas/tangerinas, butiás, araçás, pitangas com diferentes épocas de produção. Com as que sei fazer os doces, o faço. Até pra que minhas netas saibam como se fazem.

Então esse voto de louvor a minha mãe que no último dia 8 de março estaria completando 120 anos.

Não é coincidência que nasceu no dia em que se comemora o dia da Mulher.

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