Há muito tenho escrito sobre isso. Sempre que me deparo com
uma situação idêntica à que acometeu o ator Flávio Migliaccio tenho colocado
algumas convicções que me fazem diferente daqueles que julgam essa vida ser em
si o início e o fim. Essa finitude não se sustenta. O gesto do ator, extremado,
configura o incompletismo que é chegar ao fim de uma vida e ao olhar para trás,
ver que nada daquilo valeu a pena pois que não cumpriu com o script planejado
antes de sua vinda para a vida intrafísica.
Algumas situações fortalecem esse descrédito, esse
desatino. A pandemia, a atitude de quem poderia aliviá-la de alguma forma e não
o faz, a irresponsabilidade de quem deveria nos proteger e nos deixa e a todos
os idosos inseguros, faz com que, se não estamos certos de nosso papel nesse
mundo, queiramos abreviar a nossa estadia.
O modo que somos tratados na velhice, como algo
descartável, como peso morto para a sociedade, com algo sem serventia nos leva também,
a esses desatinos. Temos que encarar de maneira diferente tudo isso. Nós somos
pessoas que viram, sentiram, fizeram quase tudo para que a Humanidade chegasse
nesse ponto de evolução em todos os campos do conhecimento. Se não fizemos
tudo, nossas ações tem que ser avaliadas no extrafísico mas, como somos
imediatistas, tendemos a fazer esse tipo de crítica de nós mesmos (”Tenho a impressão que foram 85 anos
jogados fora num país como este e com esse tipo de gente que acabei
encontrando. “), sem contrabalançar com as atitudes boas que desenvolvemos
e com a certeza de que algumas ruins não puderam, de uma forma ou de outra,
serem suprimidas e que serão tratadas em próximas vindas a este planetinha.
Tenho algum conhecimento sobre tudo isso, tive muitas
experiências que me fazem entender essa relação vida e morte. Muitos dos
cacoetes que trouxe de outras vidas ainda estão presentes nas minhas atitudes. Como
não alcancei um estágio mais avançado, sei que tenho que trabalha-las em próximas
vindas. Isso me faz ficar em paz e não pensar em gestos extremos.
O poeta Jayme Caetano Braum escreveu em um poema, a desdita
de uma pessoa na mesma situação do ator:
É a saudade
Essa punilha
Que vai nos roendo canal
Esse caruncho infernal
Que fura até curunilha
É a derradeira tropilha
Da vida mal tironeada
Essa punilha
Que vai nos roendo canal
Esse caruncho infernal
Que fura até curunilha
É a derradeira tropilha
Da vida mal tironeada
Que
chegando ao fim da estrada
Se dá conta num segundo
Que veio e vai deste mundo
Sofrendo a troco de nada.
Se dá conta num segundo
Que veio e vai deste mundo
Sofrendo a troco de nada.
Alguém escreveu em um post que coloquei sobre o assunto, que não
deveriam ter posto a publico a carta que ele deixou. Realmente, isso com
certeza incrementará o abandono da vida prematuramente. Ou como brinco as
vezes: - fazer como o perú que morre na véspera.
Se alguém de sua relação estiver na situação de desengano igual
ao do ator, aja, tente reverter.
Não deixe seus velhos na solidão!
Show. Bjus no coração. Linda reflexão.
ResponderExcluirObrigado.
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