COSTELÃO DE NOVILHA

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A PROVA DE QUE APRENDI A ASSAR...

terça-feira, 5 de maio de 2020

RELAÇÃO VIDA X MORTE



Há muito tenho escrito sobre isso. Sempre que me deparo com uma situação idêntica à que acometeu o ator Flávio Migliaccio tenho colocado algumas convicções que me fazem diferente daqueles que julgam essa vida ser em si o início e o fim. Essa finitude não se sustenta. O gesto do ator, extremado, configura o incompletismo que é chegar ao fim de uma vida e ao olhar para trás, ver que nada daquilo valeu a pena pois que não cumpriu com o script planejado antes de sua vinda para a vida intrafísica.
Algumas situações fortalecem esse descrédito, esse desatino. A pandemia, a atitude de quem poderia aliviá-la de alguma forma e não o faz, a irresponsabilidade de quem deveria nos proteger e nos deixa e a todos os idosos inseguros, faz com que, se não estamos certos de nosso papel nesse mundo, queiramos abreviar a nossa estadia.
O modo que somos tratados na velhice, como algo descartável, como peso morto para a sociedade, com algo sem serventia nos leva também, a esses desatinos. Temos que encarar de maneira diferente tudo isso. Nós somos pessoas que viram, sentiram, fizeram quase tudo para que a Humanidade chegasse nesse ponto de evolução em todos os campos do conhecimento. Se não fizemos tudo, nossas ações tem que ser avaliadas no extrafísico mas, como somos imediatistas, tendemos a fazer esse tipo de crítica de nós mesmos (”Tenho a impressão que foram 85 anos jogados fora num país como este e com esse tipo de gente que acabei encontrando. “), sem contrabalançar com as atitudes boas que desenvolvemos e com a certeza de que algumas ruins não puderam, de uma forma ou de outra, serem suprimidas e que serão tratadas em próximas vindas a este planetinha.
Tenho algum conhecimento sobre tudo isso, tive muitas experiências que me fazem entender essa relação vida e morte. Muitos dos cacoetes que trouxe de outras vidas ainda estão presentes nas minhas atitudes. Como não alcancei um estágio mais avançado, sei que tenho que trabalha-las em próximas vindas. Isso me faz ficar em paz e não pensar em gestos extremos.
O poeta Jayme Caetano Braum escreveu em um poema, a desdita de uma pessoa na mesma situação do ator:
É a saudade
Essa punilha
Que vai nos roendo canal
Esse caruncho infernal
Que fura até curunilha
É a derradeira tropilha
Da vida mal tironeada
Que chegando ao fim da estrada
Se dá conta num segundo
Que veio e vai deste mundo
Sofrendo a troco de nada.
Alguém escreveu em um post que coloquei sobre o assunto, que não deveriam ter posto a publico a carta que ele deixou. Realmente, isso com certeza incrementará o abandono da vida prematuramente. Ou como brinco as vezes: - fazer como o perú que morre na véspera.
Se alguém de sua relação estiver na situação de desengano igual ao do ator, aja, tente reverter.
Não deixe seus velhos na solidão!

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